quinta-feira, 22 de julho de 2010

Adubação verde II

Para quem não conhece, esse é o grande Doutor em solos Ademir Calegari, pesquisador do Iapar, autor de uma série de trabalhos e alguns livros na área de rotação de culturas, adubos verdes e plantio direto. Tive o prazer de conhecê-lo ainda na Universidade, e depois de 20 anos pude reencontrá-lo aqui em Maringá, na semana passada em um dia de campo. Na sua palestra como de costume ressalta a importância da rotação de culturas e o uso de plantas que promovam a reciclagem de nutrientes, a melhora da estrutura do solo, o fornecimento de matéria orgânica, entre tantos outros benefícios que os adubos verdes oferecem.
Já escrevi em outras ocasiões que tenho grande empatia por essa área, e desde a faculdade procurei estudar esse assunto e aplicá-lo no meu exercício profissional, e uma das pessoas que na época me levou a gostar do tema foi justamente o Dr. Ademir, na época já pesquisador do Iapar, que ministrava palestras nas famosas Semanas Agronômicas da UEL. 
Assim que puder vou comentar alguns assuntos abordados pelo pesquisador na ocasião do evento. No momento o que posso transmitir é o grande contraste que pude sentir, por um lado a alegria de revê-lo com o discurso cada vez mais afinado, e de outro uma certa tristeza de saber que poucos colegas prestigiam um trabalho destes, o que pode ser claramente visto não só pela baixa participação em eventos técnicos com autoridades desse calibre, mas principalmente pela omissão no contato direto com o produtor, ao não levar a campo técnicas consagradas, deixando o trabalho técnico e valorização profissional de lado para fazer a vontade imediatista do produtor, que em um ano como este, onde mesmo com o cenário para o milho safrinha e o trigo já desenhados, prefere arriscar no curto prazo ao invés de investir no solo e fazer um trabalho de longo prazo, que é o único que vai dar sustentabilidade a agricultura. Só o tempo vai mostrar quem está com a razão, o que é uma pena! 

Na foto: nabo forrageiro consorciado com aveia preta.

sábado, 17 de julho de 2010

"E se a gente começasse a produzir menos comida, para recuperar mata nativa, e aprendesse a fazer micagem e a se pendurar em árvores?"

O artigo abaixo, publicado nesta semana pelo colunista da Veja, Reinaldo Azevedo, abordando um dos assuntos mais comentados atualmente no setor rural, foi dica do meu colega agrônomo Renato Alcazar. Muito interessante o ponto de vista do autor. Vale para uma boa reflexão!

"O deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP) foi a um evento numa central sindical ontem — a CGT — e defendeu o relatório que fez do Código Florestal, um bom relatório diga-se. O Brasil está se tornando um país tão esquisito em certas áreas que cabe a um comunista — teoricamente ao menos, ele ainda é… stalinista! — defender a produção agrícola. É bem verdade que, em certa medida, isso nem é assim tão despropositado. No que pode haver de virtuoso no idealismo comunista — aquele papo de “igualdade”, que, não obstante, já matou tanta gente —, o produtor rural brasileiro até que é bem camarada, né? A senadora Kátia Abreu (DEM-TO), presidente da CNA, relatou uma conversa que teve dia desses com um potentado da indústria brasileira. Conversa das mais curiosas. Num dado momento, disse ele à interlocutora:

— Vocês, produtores rurais, precisam pensar mais como negociantes. Vocês não são governo! Se o consenso dos políticos é pela redução da área plantada, se é isso o que majoritariamente quer a imprensa, que vive malhando vocês, se ninguém tem coragem de defender a produção agropecuária, conformem-se, plantem ou produzam carne na área que eles consideram a ideal. Vocês podem lucrar o mesmo produzindo em menos terras. É verdade que a produção vai cair. Mas o preço vai subir. Pra que ficar dando murro em ponta de faca? Vocês também têm o direito de parecer chiques e preocupados com o futuro da humanidade.

Pois é… Não é que faz sentido? Trata-se de uma das leis mais antigas da humanidade a definir o preço de alguma coisa: a lei da oferta e da procura. Aldo Rebelo, para o bem dos pobres brasileiros (vejam: na falta de políticos “liberais” que tenham coragem de defender o relatório do Código Florestal, cá estou eu a elogiar um comunista), decidiu eliminar do seu texto algumas medidas que DIMINUIRIAM A ÁREA DESTINADA À AGRICULTURA E À PECUÁRIA NO BRASIL. Se, em vez de “x” toneladas de comida (para ser genérico), o país produzir x-y, o que sobe é o preço. E quem se dana é o pobre, que terá uma comida mais cara e sofrerá os efeitos da inflação, que sempre pune menos os mais ricos porque conseguem encontrar alternativas.

Essa é, sem dúvida, uma das loucuras brasileiras. O setor que garante a comida mais barata do mundo e que tem respondido pela estabilidade da economia — é ele que impede que a balança comercial brasileira naufrague — é tratado como a Geni do país. Kátia Abreu, é bem verdade, é boa de briga. Mas, às vezes, eu a vejo quase solitária a dizer o óbvio. E os que exercitam aquela glossolalia ambientalista, descolados da realidade, são tratados como deuses, como entidades que tivessem descoberto “a coisa”.

Talvez o Brasil tenha cometido mesmo um grande pecado quando fez a agricultura avançar no cerrado. Aquela região toda deveria ter permanecido intacta. Os brasileiros, hoje em da, em vez de gastar 18% de sua renda — na média — com alimentação, continuariam a torrar os mesmos 48% do fim dos anos 60 e início dos 70. Comida barata, vejam que fabuloso!, significa mais renda para o pobre. Mas, se não querem, por que os produtores devem continuar a ser os alvos das ONGs, dos politicamente corretos e da Marina Silva? Chega de mártires e heróis, não é? Vamos ser todos ambientalistas. É isso aí. Querem diminuir a área plantada em São Paulo? Diminua-se. Querem diminuir a área plantada em Goiás e Mato Grosso? Diminua-se. No aperto, a gente se reúne em torno daquela sábia árvore do filme Avatar e começa dizer coisas estranhas…

A gente também pode mudar de ramo e direcionar o país para uma nova janela de negócios, que seria, assim, o turismo de entretenimento. Os brasileiros todos se especializariam em malabares, saltos ginásticos, atividades circenses — a gente pode até botar uns rabos postiços para ficar brincando de se pendurar em arvores; em breve teríamos a nossa cauda natural, fiquem certos —, e os turistas pagariam para nos ver num cercadinho, em nossos alegres folguedos. Os mais divertidos fariam micagens; os mais enfezados jogariam frutas e cocô nos visitantes. Tudo isso em meio a uma natureza exuberante. De volta a seu país, no aeroporto, ganhariam de presente um creme anti-rugas, que produziríamos com nossa baba nativista.

É isso aí. O interlocutor de Kátia Abreu está certo. Eu também virei ecologista agora, desse tipo que, diante do Código Florestal, sai gritando feito Bambi: “Fogo! Fogo na floresta!” Talvez a senadora deva fazer o mesmo. Como a redução da área destinada à agropecuária não eliminaria a lei da oferta e da procura, os ditos “ruralistas” lucrariam a mesma coisa. É verdade que os pobres iriam se danar com comida mais cara e inflação. Pobre, vocês sabem, nunca está contente: você oferece uma natureza exuberante pra eles, e eles logo vão querendo comida barata."

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Adubação verde

Uma prática agrícola utilizada há mais de 2.000 anos por gregos, romanos e chineses tem se tornado cada vez mais importante na atualidade. O objetivo é aumentar a produção das lavouras a partir da melhoria da fertilidade do solo sem dependência de insumos externos à propriedade. Trata-se da adubação verde, técnica que contribui com a conservação ambiental.

A prática consiste no plantio de espécies vegetais, principalmente leguminosas, em rotação ou consórcio com lavouras. Essas espécies podem ser roçadas e deixadas no terreno para servirem de adubo natural, ou podem ser usadas para o plantio direto. Neste caso, em cima da palhada, são cultivadas outras culturas. Leguminosas perenes também são utilizadas em sistemas de faixas. Cultivadas próximas da área do cultivo principal, periodicamente são podadas e suas folhas acrescentadas à área de produção.

A matéria orgânica disponibilizada pela adubação verde retém nutrientes na superfície do solo e aumenta a fertilidade do terreno. As raízes profundas dessas plantas trazem para a superfície nutrientes levados pela água para o subsolo.

Leguminosas, como feijão guandu, mucuna e crotalária, são capazes de ampliar o teor de matéria orgânica no solo pela fixação biológica de nitrogênio, que é realizada em simbiose (ou parceria) com bactérias presentes em suas raízes, de forma que passa a ser possível aumentar a produtividade das culturas sem depender totalmente de fertilizantes químicos, que têm alto custo econômico e ambiental.

Além do benefício da redução dos custos de produção, a adubação verde contribui com a conservação da biodiversidade. Segundo o pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG) Walter Matrangolo, com o uso intensivo de adubos minerais solúveis, ocorre a eutrofização do solo, ou  seja, o excesso de nutrientes estimula o desenvolvimento de microrganismos que consomem rapidamente grande parte da matéria orgânica. Esse processo pode causar aumento da compactação do terreno, diminuição da capacidade de retenção de água e aumento da erosão. Por outro lado, os adubos verdes promovem o equilíbrio ecológico, protegem o terreno contra radiação solar e erosão. Também promovem a descompactação e aeração do solo, o que aumenta sua capacidade de armazenamento de água e de nutrientes.

Além disso, algumas espécies utilizadas como adubos verdes são úteis para reduzir a infestação de pragas nas culturas, pois diversificam o sistema de produção, o que favorece os agentes de controle biológico e, em geral, diminuem a incidência das plantas invasoras pelo sombreamento.

Fonte: Agrolink 08/07/10

domingo, 11 de julho de 2010

La Niña II

O Fenômeno La Niña tem dois impactos bem caracterizados: Primeiro atrasa o retorno das chuvas no Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste do Brasil. Enquanto para as lavouras do Sul do Brasil e também de Mato Grosso do Sul reduz a incidência de chuva e aumenta o risco de estiagens regionalizadas no verão. Para a safra 2011, portanto, muda o cenário climático, principalmente quando comparado com o observado na safra passada. O retorno das chuvas este ano deve ocorrer somente no final de outubro e no decorrer de novembro, mesmo assim de forma muito irregular, o que deve implicar no atraso do plantio para as lavouras de Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, Bahia, Piauí, Maranhão e Tocantins. Durante o verão as chuvas nesses estados devem apresentar um comportamento médio, com o risco das chuvas se prolongarem até abril e meados de maio. Já as lavouras do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e também de Mato Grosso do Sul não devem enfrentar grandes problemas na fase de plantio entre outubro e novembro, porém devem considerar o risco de estiagem durante os meses de verão. Inclusive, a continuidade do La Niña remete para um outono também com chuvas abaixo da média.

Portanto, para nossa região, que tem a cultura da soja como carro chefe, temos algumas preocupações para a próxima safra. O importante é que hoje em dia, com o nível de informação, as previsões climáticas são bem antecipadas, de forma que podemos nos valer de técnicas para diminuir as perdas em eventuais eventos. Lógico, que a dificuldade é que as previsões não são perfeitas e nem detalham o período que vai ocorrer o problema, mas mesmo assim, sabendo de sua probabilidade, podemos nos preparar para minimizá-lo. No caso da soja, podemos citar: plantio escalonado, utilização de variedades de ciclo médio, maior racionalização do uso de fertilizantes, entre outras.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

La Niña

Segundo os meteorologistas, depois de um período de aproximadamente 01 (um) ano com águas aquecidas (El Niño), desde junho se observa um processo de resfriamento das águas do Oceano Pacífico equatorial, indicando o retorno do fenômeno La Niña e alterações no clima já na próxima Primavera. O resfriamento das águas do Oceano Pacífico equatorial deve aumentar gradualmente no decorrer deste inverno, com o La Niña totalmente configurado durante a Primavera e permanecendo durante o verão 2011. A previsão é de um episódio de intensidade moderada a forte e deve durar pelo menos até o outono de 2011. Lembrando ainda que o último La Niña ocorreu no Verão 2007/2008. Porém, dadas as características como intensidade, rapidez na formação e provavelmente duração, o episódio deste ano está muito semelhante com o observado no segundo semestre de 1998 e verão 1999.
Tomara que estejam errados, visto que naquela safra houve grandes prejuízos para a agricultura!

domingo, 4 de julho de 2010

Crime ambiental

Como hoje é domingo, vamos dar uma folga nos assuntos técnicos, mas sem fugir da nossa área. O link abaixo mostra fotos das "extintas" Sete Quedas, em Guaíra-Pr, o que seria hoje uma das maiores atrações turísticas do Paraná, senão do Brasil. Eu era pequeno na época, mas lembro que fui com meus pais visitá-la, por volta de 1975, pouco antes de destruirem um dos maiores patrímônios do nosso país. Sem dúvida, nada justifica o crime que fizeram, poderíamos ter várias hidroelétricas ao invés de um monstro como Itaipu, que sequer tem eclusas que permitam sua transposição e a ligação fluvial entre Brasil e países vizinhos.
Então fiquemos com as fotos e a história, e quem sabe o exemplo sirva para as gerações futuras, para que nunca mais cometam crimes como este contra a natureza.