Economia nas práticas agrícolas e equilíbrio ambiental. Essas são as duas principais vantagens do fertilizante desenvolvido recentemente no Departamento de Química da Universidade Federal do Paraná (UFPR). O novo produto, que pode ser aplicado em qualquer tipo de solo ou cultura, permite que o nitrogênio, presente na ureia, seja liberado de forma lenta nas plantações. Além de evitar desperdícios e ser menos agressivo ao solo, o produto garante às plantas melhores condições de crescimento.
Segundo o químico Antonio Salvio Mangrich, como a ureia - o mais nitrogenado dos fertilizantes - é mal absorvida pelo solo, o nitrogênio não se fixa de modo eficaz à raiz das plantas, causando déficit de proteína nos cultivos, entre outros problemas.
"Na forma solúvel, como normalmente se apresenta, até 70% do composto nitrogenado costumam se perder devido à evaporação e à lavagem do solo pela água da chuva", diz Mangrich. Dessa forma, todo nitrogênio não absorvido pelo solo vai parar em rios e lagos, causando sérios danos ambientais.
A solução encontrada pela equipe da UFPR foi criar um produto granulado. Para obtê-lo, intercalaram, em uma estrutura que lembra um sanduíche, ureia e caulim (um tipo de argila). O caulim faz as vezes das fatias de pão do sanduíche; a ureia é o recheio. O pulo-do-gato do processo está no emprego dessa argila. Por reter a ureia no interior de sua estrutura, ela faz com que o nitrogênio seja liberado lentamente.
O químico Fernando Wypych, também membro da equipe, explica o processo básico de obtenção do novo fertilizante. A operação consiste em atritar as duas substâncias (ureia e caulim), friccionando-se uma contra a outra.
Em seguida essa estrutura mista é moída, dando origem aos grânulos. "O resultado é um produto extremamente resistente, em que as moléculas de ureia permeiam a estrutura do caulim", diz o químico. Segundo ele, o método é trabalhoso, mas compensador, já que não há perda de ureia.
RESISTÊNCIA
O produto foi submetido a dois testes de resistência: a temperaturas elevadas (até 150 ºC) e a água em abundância (como ocorre no caso de chuva torrencial). Em ambas as situações as substâncias não evaporaram, e o nitrogênio, mesmo em contato com a água, foi liberado lentamente.
O passo seguinte será testar o fertilizante em campo. A tarefa caberá à empresa que adquiriu o direito de uso da patente. "Acreditamos que até o final do ano o produto já possa ser aplicado no solo", espera Mangrich.
Fonte original: Ciência Hoje On-line